BUSCA:  
 

 

 

 

       Movimento Escoteiro X Organização Escoteira

Matéria enviada por:  Letícia Brito - Equipe @zimute
Enviado em: 26/05/2002

Há algum tempo venho ouvindo relevantes figuras do escotismo brasileiro fazerem questão em separar o movimento escoteiro da organização escoteira, mencionando os dois como coisas distintas e sem interferência ou inter-relação. Faz tempo que o escotismo não tem grande reconhecimento da população e das comunidades de nosso país. Atrevo-me a atribuir à esta tentativa em separar a "base" da "organização", grande parte dos problemas que o escotismo enfrenta.
Ao aceitar a Lei e a Promessa, o indivíduo se predispõe a cumprir (ao menos tentar) uma série de valores, norteadores de uma conduta específica, a conduta escoteira. Durante muito tempo o escoteiro foi símbolo de confiança, visto que nosso 1º artigo virou ditado popular, originando a "Palavra de Escoteiro".
Infelizmente, na organização do escotismo verificamos atitudes políticas e não escoteiras. Dizer que a política está presente na vida humana é perfeito. Porém quando é preciso abrir mão de valores ou ideais, de forma a conseguir alianças ou regalias, acaba-se com o espírito escoteiro, que deveria ser norteador da organização, assim como do movimento.
O espírito escoteiro é um sentimento, uma palavra abstrata que nem todos conseguem compreender ou sentir, embora devesse ser fator intrínseco a todo escoteiro. Freqüentemente, verificamos dirigentes ou líderes que desconhecem o espírito escoteiro, e por não conhecê-lo equivocam-se substituindo o altruísmo inerente a este sentimento por uma constante luta por status e reconhecimento, em detrimento da essência do escotismo, o benefício da comunidade através da educação do jovem, em constante contato com a natureza.
O contato com a natureza, aí está um meio eficaz que Baden-Powell, assim como outros líderes da época, encontrou para que o jovem entendesse o "tal espírito". Como explicar a essência do escotismo para um dirigente que se esqueceu (ou nunca sentiu) da sensação de, em um acampamento, pertencer à natureza. Talvez o sentimento de se perceber pequeno diante da grandeza natural o fizesse descobrir que a humildade pode torná-lo muito maior e mais líder que uma autoridade imposta, ou conseguida por barganha. De que adianta saber de cor o estatuto da UEB (não digo que não é importante sabê-lo) se não se sabe emocionar-se com um jovem em atividade. De que adiante montar um campo tecnicamente perfeito se não se consegue entrar em sintonia com o ambiente que o cerca.
É evidente, para mim, que nem todos estão preparados para o escotismo, mas podem tentar se adaptar. Para isto será preciso reavaliar sua posição (de status, de coordenação, de suposta liderança), verificar se sua autoridade é aceita por respeito ou por temor, andar um pouco descalço no campo, tomar um banho de cachoeira, sentir a energia da natureza e pensar porque B-P utilizou tal artifício. Fazer-se enxergar que há algo muito maior no escotismo. Perceber que muito mais que um local para realizar antigas frustrações, é um local de investimento moral, onde a essência é a esperança. Uma chance de modificação de padrões sociais da humanidade, por meio da aceitação de um código de condutas de respeito entre povos e planeta, que pode proporcionar um futuro melhor.


VOLTAR